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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Assassinato e barbárie na floresta



O casal José Claudio Ribeiro, e dona Maria do Espírito Santo assassinados no Pará
O crime teria ocorrido, segundo informações preliminares da Comissão Pastoral da Terra de Marabá, por volta das 7h30 desta terça-feira. “Assassinaram o José Claudio e a Dona Maria. Esse crime não pode ficar impune” disse, por telefone, o advogado da CPT José Batista, que estava indo até o local para acompanhar as investigações, laudos, exames e fatos que possam ser importantes para o esclarecimento do caso.
Segundo Batista, a Comissão Pastoral da Terra esteve no local do crime – uma ponte localizada dentro do assentamento Agro Extrativista Praia Alta Piranheira, a cerca de 8 km do local onde o casal morava. Por volta das 7h30, eles estavam indo para a cidade – provavelmente para fazer novas denuncias de ameaças. No momento, madeireiros estavam no seu lote e cortavam árvores castanheiras.
Os ativistas foram emboscados na ponte por dois homens, pistoleiros que estavam de tocaia e que usavam armamento pesado. Foram alvejados com tiros de escopeta, revolver calibre 38 e pistola 380, com muitos tiros. Caíram ao lado de uma grande árvore e morram no local.
A polícia chegou por volta das 12 horas - segundo a CPT, se preparo para proteger o local do crime para perícias.
O clima estava pesado na região: madeireiros deixavam recados, enquanto pistoleiros rondavam a casa onde vivia o casal.
Repercussão
Em reunião com ex-ministros do Meio Ambiente para discutir a votação do novo Código Florestal, hoje pela manhã, a presidenta Dilma Rousseff já foi informada do assassinato. Gilberto Carvalho prometeu acompanhar de perto as investigações.
José Cláudio e Dona Maria do Espírito Santo moravam no assentamento extrativista Praia Alta/Piranheira, em Nova Ipixuna, no Pará, próximo a Marabá. Eles representavam o elo mais frágil da cadeia de pressão pelo carvão de mata nativa, de madeireiras e de grilagem de terras para a pecuária. Denunciavam, há meses, que estavam sendo ameaçados. A pressão viria pela parte de madeireiros da região, em busca das castanheiras e outras árvores nobres, e por carvoeiros. E era alimentada por disputas internas na coordenação do assentamento, entre aqueles que se aliavam aos fazendeiros, e os que eram contra. Ribeiro e Maria estavam isolados.
Conheci Zé Cláudio e dona Maria no ano passado. As ameaças que sofriam ganham cada vez mais contundência – ele teria escapado de uma emboscada em agosto de 2010. Pistoleiros haviam procurado por ele em sua casa. Ele não estava.
Em uma entrevista que fiz com ele recentemente, José Cláudio afirmou que sempre foi frontalmente contra a entrada dos madeireiros no assentamento, que teria iniciado cerca de quatro anos atrás, por volta de 2007, quando o preço do carvão estava em alta. E por sua objeção, foi retirado da coordenação política do assentamento (que é gerido pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar – FETAGRI).
Os madeireiros procuram castanheiras, que são serradas em Nova Ipixuna. Os resíduos das castanheiras viram carvão – assim como as áreas desmatadas dentro do assentamento
O assassinato do casal ocorreu no sul do Pará, a região mais violenta do campo no Brasil, local marcado pelo massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A retrospectiva 2003 - 2010 que não foi ao ar na Rede Globo de Televisão




O vídeo acima mostra uma retrospectiva HONESTA dos 8 anos do governo Lula, com imagens pinçadas do próprio noticiário da TV Globo.

Disseram que esta retrospectiva especial sobre os 8 anos do governo Lula iria ao ar na Globo, no início de 2011. Nunca foi até hoje.

A retrospectiva pinça as notícias importantes de fato, que causaram impacto na vida nacional, que merecem ser lembradas à luz da história. O resultado é que as notícias positivas dominam com sobra.

Se pegarmos o noticiário da TV Globo nos 8 anos do governo Lula, há apenas uns 10% destas notícias positivas (as realmente muito importantes, conforme a retrospectiva mostra) e 90% de notícias negativas, com muito lixo, "testes de hipóteses", factóides, assuntos de pouca importância dominando a pauta.

Os 8 anos de noticiário foram o inverso do que foi de fato o governo Lula, e quem diz é povo, quando 87% consideraram o presidente como bom ou ótimo, e apenas 4% acharam ruim ou péssimo.

Se a Globo quisesse fazer um noticiário honesto, ela faria. E com o próprio material que tem.

domingo, 15 de maio de 2011

Gente diferenciada invade Higienópolis para exigir Metrô

Como é interessante como parte de nossa elite econômica é tacanha, preconceituosa e reacionária. Além, óbvio, de serem extremamente individualistas em seus valores morais, que diga-se de passagem, são ultrapassados. Mas uma coisa podemos concordar, não deixam de fazer bobagem sempre quando alguma medida governamental é anunciada para atender as necessidades dos mais pobres. Um exemplo disso é a polêmica em torno de se abrir ou não uma estação de metrô no bairro Higienópolis em SP. Bairro onde parte da granfinagem paulistana reside.

Acompanhe a matéria que Maira Kubik Mano fez para a agência de notícias Carta Maior e que reproduzo aqui no Pimentus.




Eram pouco mais de 14 horas deste sábado quando cerca de mil pessoas começaram a se concentrar em frente ao shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. O motivo? Protestar contra a mudança da futura estação de Metrô da avenida Angélica para a avenida Pacaembu. A alteração dos planos na Linha 6 – laranja teria ocorrido após a Associação Defenda Higienópolis alegar que a obra não deveria ser feita ali porque aumentaria o "número de ocorrências indesejáveis" e a área se tornaria "um camelódromo". A reportagem é de Maíra Kubik Mano.

Maíra Kubík Mano - Especial para Carta Maior



– Eu não imaginava que as redes sociais pudessem mobilizar tanta gente.

– Eu fiquei um tempão na Praça Vilaboim e não tinha ninguém. Pensei que era lá. Ainda bem que quando cheguei aqui encontrei a multidão.

– Eu acho que tem pouca gente. Mais de 50 mil confirmaram pelo Facebook e não vieram. Tem pessoas que se escondem atrás do computador, fazem ativismo só online.

Divergências à parte, o churrasco da “gente diferenciada” estava cheio. Bem cheio. Eram pouco mais de 14h quando cerca de mil pessoas começaram a se concentrar em frente ao shopping Pátio Higienópolis. O motivo? Protestar contra a mudança da futura estação de Metrô da av. Angélica para a av. Pacaembu. A alteração dos planos na Linha 6 – laranja teria ocorrido após a Associação Defenda Higienópolis alegar que a obra não deveria ser feita ali porque aumentaria o "número de ocorrências indesejáveis" e a área se tornaria "um camelódromo".

A avenida Higienópolis foi fechada rapidamente pela multidão. Um policial tentava negociar com um homem que segurava uma tigela com farofa: “Precisamos saber o percurso de vocês, para interromper o trânsito”. “Eu não sou líder do movimento, não tem ninguém aqui para responder por isso”, diz ele, virando as costas para a autoridade.

“Sou representante da associação de moradores do bairro”, grita um jovem. Silêncio. Todos querem ouvir o que ele tem a dizer. “Me enviaram aqui para dialogar com vocês. Nós queremos o Metrô sim. Mas ele tem que ser condizente com o nível do bairro. Portanto, exigimos uma ligação direta com Alphaville, Morumbi e Veneza, na Itália”. Gargalhadas correm soltas.

Eliná Mendonça, vizinha do shopping, gosta da piada. “Só que essa questão é muito séria”, alerta. “Não é verdade que a gente aqui não quer isso. Não queremos ser vistos como elitista”. Ao seu lado está Myrna Kovyomdjian, também moradora do bairro. “Meu apartamento é na rua Ceará e eu quero o Metrô aqui”, diz. “Somos 55 mil pessoas em Higienópolis. Não podemos deixar que um abaixo-assinado com 3 mil nomes impeça o transporte público.” As duas senhoras lembram que, quando o shopping foi construído, também houve muita oposição. “Ninguém queria e agora todo mundo frequenta. Com o Metrô vai ser a mesma coisa”, completa Myrna.

A Associação Defenda Higienópolis? Nenhuma pessoa ali havia ouvido falar antes das denúncias. “Eu tenho um escritório ao lado do Pão de Açúcar [onde seria construída a futura estação, na Avenida Angélica], e não passou abaixo-assinado algum por lá”, afirma a consultora de recursos humanos Márcia Hasche, tomando um café dentro do shopping.

André Vasquez de Abreu não é habituê do bairro. Pelo contrário: mora em Itaquera. Mas decidiu ir ao protesto, mesmo tão longe de casa. “Eu trabalho como atendente de telemarketing na Praça da República e sempre pego o Metrô”, justifica. “E falaram que os diferenciados viriam de Metrô. Isso é para eles verem que nós viemos de qualquer jeito”, declara Vitório Felipe, também da Zona Leste, com um espetinho de queijo na mão e um sorriso no rosto.


Cartazes dão tom de brincadeira ao protesto. “Só ando de metrô em Paris, Nova York e Londres” foi um dos que fez mais sucesso. Alguns integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) queimam uma catraca e depois assam uns espetinhos nas chamas. A cena rende fotos e vídeos para todos os jornalistas presentes.

Finalmente em marcha, os manifestantes decidem subir a avenida Angélica até o local onde estava prevista a construção da estação. A bateria anima os gritos contra o governador Geraldo Alckmin e os moradores ditos “elitistas” da região. Uma churrasqueira é carregada para cima e para baixo, acesa. Em breve, todos se dispersariam no que terminou como um grande bloco de carnaval.

“Acho que o ato cumpriu seu papel”, avalia o promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, responsável por pedir esclarecimentos sobre o caso à Secretaria de Transportes Metropolitanos. Morador de Higienópolis, ele foi acompanhar de perto o protesto. Em entrevista mais cedo, Lopes havia dito à Carta Maior que iria averiguar a fundo a questão. “Quero saber porque o governo mudou de ideia em relação a onde colocar a estação. É preciso descobrir se, de fato, um grupo de 3.500 pessoas que fez o abaixo-assinado pode decidir pelas 25 mil que usariam diariamente essa estação de Metrô”. O governo tem 30 dias para responder seu pedido. Caso o promotor não fique satisfeito com a argumentação, solicitará a realização de estudos técnicos.

Em nota divulgada no final da semana, o Metrô reafirmou que a decisão de mudar a estação foi técnica e que está estudando a melhor localização para atender à FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), à Avenida Angélica, à Praça Vilaboim e ao estádio do Pacaembu. Entre os argumentos do governo está a proximidade com a futura estação Mackenzie – 610 metros – o que impediria os trens de adquirirem alta velocidade na linha . “Vou avaliar as distâncias entre todas as estações de São Paulo. Aquela entre a Sé e a Liberdade, na linha Vermelha, é menor ainda do que essa. Por que foi construída então?”, indaga o promotor Lopes.

Pelas andanças no bairro, apenas uma moradora se disse contrária à estação. “Já tem metro aqui perto. Santa Cecília, Barra Funda. Agora vai ter no Mackenzie. O pessoal pode caminhar, não é tão longe”, afirma Bia, que não quis revelar o sobrenome. Um de seus temores é que o bairro se desvalorize.


“Essa é a maior bobagem”, sentencia a arquiteta e urbanista Ermínia Maricato. “O Metrô valoriza os imóveis. É um serviço que todo mundo deveria querer. Isso é típico do Brasil, de uma sociedade muito desigual e preconceituosa, que não consegue conviver com a pluralidade”.



O pessoal do churrasco diferenciado bem que tentou se misturar: a cada esquina, convidavam os moradores a descer dos prédios para provar a carne.



Fotos: Maíra Kubík Mano