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sábado, 28 de julho de 2012

A crise de credibilidade da velha mídia



Por Emir Sader

Jornais e revistas da velha mídia brasileira fazem reformas gráficas, cobram páginas na internet, dão brindes, mas ficam longe dos principais problemas que os têm levado a essa crise irreversível.

O problema central da decadência da velha mídia é a falta de credibilidade. Não apenas porque tem sistematicamente apostado editorialmente nos candidatos derrotados, como se fossem órgãos dos partidos opositores, mas também porque nem sequer tem, nas suas páginas, o mínimo de pluralismo, que permita aos leitores confrontar pontos de vista distintos.

São os mesmos colunistas, com pontos de vista muito similares, que povoam as chatíssimas páginas da mídia brasileira. (O mesmo acontece no rádio e na tv privados.) A impressão que dão é que seus pontos de vista – nos editorais e nos artigos, muito similares entre si – é que seus argumentos são tão frágeis, que tem medo de se ver confrontados com perspectivas diferentes. Escudam-se então no monopólio dos seus argumentos, como se ainda estivéssemos nos tempos em que ocupavam totalmente o espectro da formação de opinião publica e contavam com governos que concordavam em tudo com eles.

Não haverá recuperação dessa velha mídia, que caminha inexoravelmente para a intranscendência, até porque os jovens não leem mais jornais, usam a internet. A velha mídia oscila entre tentar desqualificar as mídia virtuais ou concorrer com elas.

Nenhum dos dois caminhos dá certo. Com que moral essa velha mídia – que apoiou o golpe militar, com esteve com a ditadura, com o Sarney, com o Collor e com o FHC – vem falar da falta de credibilidade das mídias alternativas? Como querem concorrer, se nas mídias alternativas estão justamente os analistas e as interpretações que eles excluem dos seus espaços?

É uma perda que jornais que já tiveram um papel progressista no passado, tenham se transformado em órgãos de direção politica e ideológica de uma oposição conservadora, sem rumo e sem apoio popular. Que tenham se partidarizado tão fortemente, que editorializem toda a publicação, que percam qualquer interesse para o debate democrático e pluralista.

Mas na verdade a decadência vem de antes, do momento do golpe de 1964. No momento mais significativo da história brasileira, eles ficaram do lado da ditadura e contra a democracia. E nunca fizeram autocrítica. Seu comportamento hoje – e a decadência irreversível em que estão – é, no fundo resultado da opção que fizeram naquele momento. Aquela opção os colocou do lado das elites, contra o povo, sem condições portanto de se identificar com o mais importante processo de democratização econômica e social que o Brasil vive há uma década.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

VIVA O 26 DE JULHO! DIA NACIONAL DA REBELDIA CUBANA




Convidamos toda/os a celebrarem conosco mais um 26 de julho - Dia Nacional da Rebeldia Cubana, data importante no calendário cubano onde rememoraremos o assalto aos quartéis de Moncada e Carlos Manuel de Céspedes em 1953 sob o comando de Fidel Castro e Abel Santamaria.

Este feito, apesar de não ter sido vitorioso, pela importância que teve na organização da resistência à ditadura de Fulgência Batista e para o triunfo da Revolução Cubana, é comemorado pelos cubanos como a data de início da Revolução. Inclusive, a data dá nome ao Movimento 26 de julho, organização que encabeçou a derrota da ditadura de Batista e garantiu a tomada do poder pelo povo em Cuba.

DIVULGUE E PARTICIPE DAS ATIVIDADES!
Panfletagem na Praça Ramos
Esta atividade, realizada todos os anos, é um importante momento de contato com a população e esclarecimento sobre Cuba e sua revolução.
Data: 26/07, quinta-feira
Horário: 16h
Local: Praça Ramos de Azevedo - em frente ao Teatro Municipal de SP
Obs.: se chover NÃO haverá a atividade

Ato político na APEOESP

Presenças confirmadas do Cônsul Geral de Cuba em São Paulo, Lázaro Mendes e Marcelo Buzetto da Via Campesina.
Apresentação cultural dos Cravos da Madrugada
Data: 26/07, quinta-feira
Horário: 19h
Local: Auditório da APEOESP
End.: Praça da República, 282




Imagem inline 2Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nova relação de poder em escala mundial

Por Emir Sader

Entre as coisas que mais incomodam a direita latino-americana estão os processos de integração regional. Um argumento forte que a direita sempre usava e que tende, cada vez mais, a perder força, é o que consideravam caráter inevitável da hegemonia economica norteamericana, o que nos levaria, segundo a direita, a termos que nos submeter a políticas de subordinacao aos EUA, sob o risco de ficarmos para trás nos processos de modernização e desenvolvimento econômico.

A atual crise econômica representa, entre tantas outras coisas, a culminação de um processo de enfraquecimento das economias do centro do capitalismo, depois de décadas de aplicação de políticas de livre comércio e de neoliberalismo. A crise profunda e prolongada em que estão imersas, tem consequências recessivas para o conjunto do sistema econômico mundial, mas não o suficiente para levá-lo, por inteiro à recessão. Seus efeitos políticos têm sido o oposto do que costumavam ser: ao invés de reafirmar o peso e o lugar incontornáveis dos países do centro, tem levado ao seu enfraquecimento. Os países que mais dependem deles são os mais afetados pela crise e pela recessão. Os modelos que eles afirmavam como inevitáveis, os levam à recessão prolongada, enquanto as economias que aplicam modelos distintos, conseguem se defender das ondas recessiva vindas do centro, mantendo níveis de expansão, associados a políticas sociais redistributivas.

A prioridade dos projetos de integração regional ao invés dos Tratados de Livre Comércio com os EUA revelam-se não apenas uma opção política coerente, como produzem efeitos econômicos favoráveis. A opção do México – o primeiro a assinar TLC na America Latina – se revelou frustrada: ao invés de impulsionar seu crescimento e renovação econômica, o condenou a atrelar seu destino ao da economia norteamericana – um dos epicentros da crise econômica internacional -, com mais de 90% do seu comércio exterior com os EUA e praticamente nenhuma comércio com a China e muito pequeno com a América do Sul, duas das principais fontes de crescimento econômico no mundo hoje.

Assim a opção preferencial pelos processos de integração Sul-Sul revelam não apenas uma postura de luta por um mundo multipolar, como mostram sua eficácia econômica, tirando da direita o argumento que não privilegiar relações econômicas com os EUA e a Europa levaria os países ao atraso, ao isolamento e à recessão.

Há uma nova correlação de forças econômicas em nível mundial e ela favorece o Sul do mundo em detrimento dos países do centro do sistema. Não se trata de uma reversão nas relações de poder, promovendo a hegemonia do Sul sobre o Norte, mas sim de uma situação que permite relações distintas às que predominaram desde o surgimento do sistema capitalista, como o colonialismo e o imperialismo que ele promoveu. Além de que o dinamismo econômico já não é monopólio dos países do centro, que podem seguir detendo vantagens do ponto de vista tecnológico, mas não podem aplicar esses elementos sem dinamismo econômico, com que não podem contar.

Do que se trata agora é de construir espaços de integração em nível mundial, conforme a visão e os interesses do Sul do mundo, que permitam superar o sistema institucional internacional que foi criado para consolidar e perpetuar o poder dos países centrais, hoje declinantes em escala mundial.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O dinheiro não é um valor



"Os 'valores' traduzidos em preços têm utilidade imediata, porém permanecem presos aos horizontes das preocupações imediatas"

Por Leandro Konder
Imagine que você acaba de chegar a um lugar onde pessoas conceituadas estão discutindo sobre economia e finanças. Imagine o que aconteceria se você dissesse:
- O dinheiro não é um valor.
Provavelmente, uma onda de protestos criaria enormes dificuldades para você argumentar em defesa da sua tese. Talvez você não consiga nem falar!
A palavra "valor" se presta a uma enorme confusão. Ela engloba tanto os chamados "valores" econômicos como os valores éticos, estéticos, filosóficos, religiosos, humanos em geral.
Economicamente, o valor se traduz no dinheiro. O dinheiro indica o preço, o que a mercadoria está valendo no momento da compra e venda.
O dinheiro é o equivalente universal na esfera das mercadorias. Ele tem desempenhado um papel historicamente importante, tem agilizado comércio, tem viabilizado acordos complexos.
Não tem sentido investir contra o dinheiro ou desprezá-lo. Ele contribui para medir o que precisa ser medido. Avaliações criteriosas dependem de instrumentos delicados e, muitas vezes, dependem da quantificação promovida pelo dinheiro.
O dinheiro chegou a se transformar, como observou Goethe no Fausto, numa espécie de Deus. A maioria das pessoas, implícita ou explicitamente, vice em função do dinheiro. Essa opção lhes parece tão "natural" que ela frequentemente se espantam quando outras possibilidades são evocadas.
Para o comum dos mortais, o dinheiro é o valor dos valores. Se paramos para pensar, entretanto, verificamos que as coisas são mais complicadas do que parecem.
O dinheiro remete sempre a algo quer você pode adquirir com ele, a algo que não é ele, a algo que está fora dele. O poder do dinheiro é grande, mas não é ilimitado. O mundo do dinheiro é o das circunstâncias, que são, por definição, relativas.
O mundo das coisas relativas é importantíssimo, é ineliminável da nossa existência humana. Mas não a esgota.
Todas as culturas, de todos os povos, ao que tudo indica, mostram que os seres humanos necessitam de valores de outro tipo: valores intrinsecamente qualitativos, vividos como absolutos.
Cada cultura faz suas escolhas a respeito do que sejam honestidade, sinceridade, coragem, tolerância, solidariedade, beleza e generosidade. E cada pesoa, em algum momento, faz sua própria avaliação das ações humanas à luz das virtudes e dos valores que nelas se expressam.
É claro que esses valores - éticos, estéticos, filosóficos, religiosos, humanos - também são relativizados quando são vividos, traduzidos em ações históricas. A hisatória modifica tudo, nada escapa a ela.
Tudo se transforma. O que conta, porém, é o modo como se realiza cada transformação. Existem movimentos que se esgotam, conscientemente, nas circunstâncias em que ocorrem; e existem mudanças que plantam ideias com a esperança de que algo delas venha a perdurar.
Se eu for ao encontro de um comerciante de quem quero comprar alguma coisa, é natural que eu leve dinheiro e procure gastá-lo conscientemente. Se quero vender um produto, procurarei obter um bom preço por ele. Seria uma rematada tolice, descuidar de gastos e despesas, ignorar os limites do orçamento, dilapidar perdulariamente o patrimônio,em nome de um discurso esnobe, romântico e demagógico, contra o dinheiro.
O problema não está no respeito à lógica da economia (ou, mais precisamente, das finanças) no território que lhe é próprio: o erro essencial está na aceitação de uma "geleia geral", que mistura os valores, dissolve os conceitos e mistura as ideias. "Valores" mensuráveis, circunstanciais, que tentam se fazer passar por valores essenciais, duradouros, tornam-se trapaceiros, impostores.
Os "valores" que podem ser traduzidos em preços têm uma indiscutível utilidade imediata, porém permanecem presos aos horizontes das preocupações imediatas. Causam graves distorções ideológicas e sérios danos morais, quando interferem no âmbito dos autênticos valores (sem aspas). Desrespeitam os valores humanos que não estão à venda.
A expansão exagerada dos domínios do dinheiro tende a impedir que os seres humanos reconheçam a demanda - diversificada mas permanente- dos valores que as culturas particulares vão tecendo e com os quais vai se constituindo uma expressão infinitamente universal da humanidade.
O dinheiro não substitui esses valores. E, quando se pretende usá-lo para substituí-los, ele os destrói.
Um exemplo disso se encontra na argumentação do personagem que dá título ao magnífico O sobrinho da Rameau, de Diderot. Quando procura convencer seu interlocutor de que o dinheiro podia ser o fundamento de todos os valores, o "sobrinho" só consegue demonstrar que essa convicção resulta em completa insensibilidade ética, em cinismo crasso. "O dinheiro é tudo. O resto, sem o dinheiro, não é nada".
As discussões atuais a respeito da solidariedade às vítimas do maremoto na Ásia nos fazem recordar esse texto literário de Diderot, que Goethe, Hegel, Marx e Freud consideravam uma obra-prima. O sobrinho de Rameau é uma clara demonstração de que, por mais importante que possa vir a ser, o dinheiro não é um valor.
Tragédia na Ásia
A "parcimônia" da ajuda do governo dos Estados Unidos às vítimas do maremoto na Ásia levou alguns dirigentes do Estado mais rico do mundo a desenvolver uma argumentação que girava em torno de números. Qual seria a cifra adequada à extensão da catástrofe? Como deveriam ser feitos os cálculos? Com base no número de mortos? E deveriam ser incluídos nos cálculos também os desaparecidos?
Foi constrangedor ver um funcionário da ONU tendo que puxar as orelhas do governo Bush. E foi mais constrangedor ainda ler depopis na manchete de um grande jornal norte-americano a autocrítica: "De fato, temos sido avarentos". Nas semanas que se seguiram, a doação aumentou, e um representante do Estado avarento admitiu que o governo Bush estava procurando melhorar sua imagem entre os mulçumanos.
Configurou-se, pois, uma situação criada por uma catástrofe natural, logo imposta como um desafio colossal a todos os que podiam intervir para evitar que a tragédia se alastrasse. Os olhos do mundo se fixaram, sobretudo, nos mais poderosos. Os norte-americanos se viram, de repente, no centro do palco.
Num primeiro momento, os indivíduos que haviam se tornado decisivos para ajuda às vítimas trataram de definir sua intervenção por meio de "valores" (dólares). Em seguida, o critério monetário foiu completado com conveniências políticas de imagem (propaganda).
Valores éticos, óbvios, de solidariedade humana, não apareceram no discurso das autoridades estadunidenses durante as primeiras semanas da calamidade.
Aparentemente, não foram considerados necessários. O que confirma o esvaziameno que estão sofrendo.

Leandro Konder é filósofo.