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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Cai mais uma farsa do Jornal Nacional da Rede Globo


Reportagem da Rede Globo de Televisão, sobre as investigações da Polícia Federal na operação Satiagraha, em um de seus mais importantes programas jornalísticos, o Jornal Nacional, faz implodir sua credibilidade pelo choque de fatos que contrapõe a realidade e que a revista Retrato do Brasil nos revela em detalhes.



O texto abaixo foi transcrito do blog do Mello.

Retrato do Brasil apura Satiagraha e descobre furo de Protógenes e Trallicomédia de erros no Jornal Nacional

Está na Revista Retrato do Brasil (por enquanto só nas bancas e aqui no blog) uma reportagem de Raimundo Pereira, um dos jornalistas mais respeitados do país, editor dos históricos Opinião e Movimento e autor da matéria que tanto incomodou a Rede Globo, em 2006, com a denúncia da armação do delegado Bruno com repórteres (leia aquela reportagem aqui). (Clique aqui para descobrir como comprar a Retrato do Brasil).

Pereira se debruçou sobre milhares de páginas dos autos da Satiagraha e descobriu inconsistências e erros grosseiros do delegado Protógenes e sua equipe e de uma matéria de César Tralli exibida no Jornal Nacional.

Protógenes


Um erro de Protógenes e equipe está na interpretação de
um dos trechos de transcrições de áudios gravados pela PF e que constam dos
autos:


Nela está registrado um diálogo entre Braz e um tal
de “Giba”, no qual se fala sobre certa Andréa, um “ele” não identificado e uma
misteriosa “Conta do Curral”.


Nos autos do processo, os investigadores sugerem
que Giba é Gilberto Carvalho, o chefe do gabinete do presidente Lula. Andréa
seria Andréa Michael, da Folha. O “ele” poderia ser José Dirceu, o ex-chefe da
Casa Civil de Lula. E “Conta Curral” seria um pagamento ilícito no
exterior.



Raimundo Pereira pesquisou e conta o que descobriu:


O repórter investigou. Conheceu “Andréa”, que não é a
repórter da Folha, mas Andréa de Oliveira e Souza, secretária de Braz há sete
anos.


“Giba” é Gilberto Massarente, que trabalha com Braz
desde 1990, quando ele era executivo da Andrade Gutierrez.“Conta do Curral” é,
de fato, uma má transcrição e um delírio de teoria conspiratória: na gravação
ouve-se Ponta do Curral, um empreendimento imobiliário na Bahia, entre Valença e
Guaibim, que está sendo tocado por Dantas, Braz e Massarente com a ajuda do
“ele”, um agrônomo que cuida da aprovação dos planos de manejo do terreno pelos
órgãos ambientais.


A reportagem sobre a Satiagraha no Jornal Nacional




Esse desprezo por fatos claramente relevantes tem um
exemplo especial no Jornal Nacional que foi ao ar no dia 14, um dia depois que
Braz se entregou à PF. O jornal é apresentado por Renato Machado, que anuncia a
reportagem de César Tralli.


Machado diz, na abertura: “Exclusivo: gravações de
conversas telefônicas feitas Polícia Federal revelam como dois investigados na
Operação Satiagraha tentaram corromper um delegado para livrar o banqueiro
Daniel Dantas das acusações de crime financeiro e de lavagem de dinheiro”.
Ele se refere à novidade – a prisão de Braz – e passa o comando da matéria
para César Tralli, o mesmo repórter de tantos outros furos da Globo a partir de
ações da PF. Tralli recebeu, de modo privilegiado, por exemplo, as imagens do
dinheiro apreendido no caso dos chamados “aloprados” do Partido dos
Trabalhadores, feitas irregularmente por um delegado da PF e exibidas pela Globo
na véspera do primeiro turno da eleição presidencial de 2006.


Tralli, que foi o apresentador das imagens também
exclusivas da prisão de Dantas e seus executivos, no dia 8 de julho, fala em
off, e as imagens se sucedem. Mostram, aparentemente, um presídio à frente de
outro, no meio uma avenida movimentada. “É nesta cadeia, em Guarulhos, na Grande São Paulo, que está preso Humberto José da Rocha Braz”, diz o repórter. Na tela aparece foto 3x4 de Braz, depois, um prédio, à noite, com o nome Polícia
Federal. E Tralli diz, em off, que Humberto “se entregou ontem à noite na sede
da Polícia Federal”.


A seguir, surge a imagem já citada, do jantar de
Braz, Chicaroni e Ferreira no El Tranvia. Braz, de costas para a câmera;
Ferreira, meio encoberto, sentado à frente de Braz. E Chicaroni, também de
frente para a câmera, à direita. Tralli narra, em off: “Humberto e o amigo Hugo
Chicaroni, professor universitário, foram flagrados em encontros e telefonemas
oferecendo propina para um delegado federal. Toda a negociação foi monitorada
com autorização da Justiça”.


Começam a aparecer painéis na tela, um em cima, outro
embaixo, com duas fotos, escuras, irreconhecíveis, com as legendas “delegado” e
“Hugo Chicaroni”. Nos painéis, aparecem textos que reproduzem o que dizem as
vozes associadas a cada figura.


Tralli continua, em off. Diz que a gravação é
exclusiva e que “Hugo Chicaroni e Humberto Braz tentam manipular a investigação,
segundo a polícia”. O repórter da Globo diz que o objetivo dos dois é “deixar de
fora o banqueiro Daniel Dantas e parentes dele. É o que indicam as gravações”.
No letreiro correspondente a Chicaroni, surge a frase “A história de só
livrar três tá bom”. A seguir, outra: “Tá ótimo”. As frases parecem pronunciadas
por vozes diferentes, mas a edição da matéria não parece se preocupar com esses
detalhes.


A seguir, mais imagens gravadas no El Tranvia.
Depois, por 32 segundos, são exibidas imagens de fachadas e vistas do prédio da
Justiça Federal e do Fórum, de São Paulo, e do Supremo Tribunal Federal e do
Superior Tribunal de Justiça, de Brasília. Tralli, em off, começa dizendo: “As
interceptações mostram que, segundo Chicaroni, o banqueiro estava preocupado com
a Justiça Federal em São Paulo”. Nos painéis e no áudio, Chicaroni diz: “Ele
resolve. STJ, STF... ele resolve. O cara tem trânsito político ferrado”. E
Tralli conclui: “Hugo Chicaroni se refere ao STJ, Superior Tribunal de Justiça,
e ao STF, Supremo Tribunal Federal, as mais altas cortes do judiciário
brasileiro”.


Novamente, a cena do El Tranvia. Voz de Tralli, em
off: “As conversas também falam em propina. Hugo transmite ao delegado a oferta
de suborno, proposta, segundo ele, por Daniel Dantas e oferecida por Humberto
Braz, o assessor do banqueiro”. A seguir, voltam os painéis, com a transcrição
da fala de Chicaroni, ao fundo: “Ele falou: Eu tenho 500 mil dólares para tratar
desse assunto”. Depois, fala o delegado: “500 mil?” E, de novo, Chicaroni: “É.
500 mil dólares”. E, em seguida, imagens de maços de notas de 50 reais.


Tralli aparece ao vivo, pela primeira vez, após 3
minutos e 15 segundos de reportagem. Diz: “Além do pagamento em parcelas, o
valor do suborno dobrou de 500 para 1 milhão de dólares. É o que apontam as
gravações de um segundo encontro aqui, em São Paulo, entre os dois homens que
diziam representar Daniel Dantas e o delegado federal. Foi nessa mesma segunda
conversa que o delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves [Ferreira] apresentou
documentos sobre o banqueiro. Fichas cadastrais e fotos de Dantas foram exibidas
durante um almoço em que o assunto era a propina”.


Retornam as imagens dos três homens no restaurante.
Braz, que estava ao lado de Ferreira, levanta-se e troca de lugar com Chicaroni.
Tralli diz, em off: “As imagens mostram o exato momento em que Humberto Braz, de
frente para a câmera, troca de lugar com Hugo Chicaroni, para analisar melhor os
documentos. O delegado não tem pressa”.
Ouve-se a voz que seria do delegado.
No painel, a transcrição: “Pode ver com calma, que eu não vou deixar esses
documentos. Tem sonegação, tem lavagem, tem evasão de divisa, tem outros crimes
[...]”.


A seqüência se completa com novas imagens dos três
homens no El Tranvia e a voz de Tralli, ainda em off: “Logo em seguida, o
assunto passa a ser propina. Hugo Chicaroni fala em 1 milhão de dólares”. E
retornam os painéis. No de Chicaroni, lê-se: “Já que ele ofereceu 500 mil, pede
1 milhão de dólares, para ele chegar em 700, 800”.


A Trallicomédia de erros

A quantidade de erros factuais cometidos por Tralli é
enorme. A hipótese deste repórter é a de que o colega da Globo recebeu as
imagens e os áudios da PF sem muito tempo para fazer uma pesquisa maior.Braz não
se entregou à PF à noite, mas de manhã.O CDP II de Guarulhos não é a “cadeia”
que ele apresentou. O que Tralli mostrou foi uma das duas penitenciárias que
ficam próximas à rodovia Presidente Dutra, às margens da avenida que sai da
rodovia Ayrton Senna e segue para o aeroporto de Cumbica.Tralli diz, duas vezes,
que a filmagem do ato do suposto suborno é de um almoço, mas, na verdade,
trata-se de um jantar.


Diz que Chicaroni e Braz se encontraram “uma segunda
vez” com Ferreira, mas foi uma vez só.A cena em que Braz, pela segunda vez,
levanta-se, agora para voltar ao seu lugar inicial, é exibida como sendo o
momento em que ele sai para ver os papéis. O instante em que Braz examina os
papéis é outro: é aquele em que ele sai de seu lugar inicial, troca de lugar com
Chicaroni, para sentar-se ao lado do delegado Victor Hugo, quando, então, pode
ver os papéis que estavam sobre as pernas do delegado.


Pior que esses pequenos erros é a estrutura da montagem
do noticiário. As imagens principais são do filme de 4 minutos e quarenta
segundos do jantar de Braz, Chicaroni e Ferreira, vídeo feito pela Polícia
Federal e entregue, de alguma forma, à Globo. É dele que foram tiradas – não se
sabe se diretamente pela PF ou pelos editores da Globo – as seis seqüências que
aparecem no JN de 14 de julho.


Porém, as conversas, que são reproduzidas como se
tivessem sido gravadas nesse encontro dos três homens, não têm relação com as
imagens.


Em uma dessas cenas, inclusive, isso fica evidente,
devido a um absurdo. Chicaroni aparece tramando com Ferreira uma forma de elevar
a proposta de suborno de 500 mil para 1 milhão de dólares. E é evidente que não
fez isso à mesa, diante de Braz, que, segundo a PF, é quem daria o dinheiro.


Possivelmente, apenas uma das gravações é do jantar
dos três: aquela de quando Ferreira diz que vai mostrar os papéis que tem. Para
isso, pede a Braz que troque de lugar com Chicaroni e sente-se ao seu lado,
porque os papéis, como conta Braz, estavam sobre suas pernas.


A locução de Tralli, como já vimos, no entanto,
confunde as coisas. A imagem que Tralli apresenta como o “exato momento” no qual
Braz vai ver os papéis é, na verdade, o instante em que Braz se levanta para
retornar ao seu lugar, após já ter visto os papéis. Em nenhum momento ouve-se a
voz dele. Nos painéis que transcrevem as falas, não aparecem sua imagem nem seu
nome. O que transforma a matéria na denúncia de um suborno proposto por Braz é a
montagem e a palavra do locutor, que sempre afirma: “Ferreira disse que...”,
“Chicaroni disse que...” ou “Braz disse que...” O que não se sabe ainda é quanto
da armação veio pronta da PF e quanto é contribuição própria da
Globo.



Aqui, Raimundo Pereira parece ter se deixado levar pela conversa de Braz. A voz do emissário de Dantas não aparece gravada por um motivo simples, que está explicado na sentença do juiz De Sanctis, que o condenou:


Sua [de Braz] reprovabilidade deve ser acentuada, até
porque o dolo foi de uma intensidade extrema, tanto é que parte da conversa com
a autoridade policial Victor Hugo travava-se por escrito, a fim de não haver a
possibilidade de captação de voz e de permitir a concretização do "negócio"
espúrio a que se dispôs a intermediar de maneira tão importante e participativa”
[cf. fls. 5033 – grifos apostos].



Pereira prossegue enumerando mais inconsistências da reportagem do Jornal Nacional e termina com interrogações:


A Globo fez esse tipo de cobertura por algum interesse? Quem
são os interessados em considerar que os erros na privatização das teles
brasileiras serão aplacados com a demonização de Daniel Dantas e das pessoas que
estejam próximas a ele, como Braz
?

Um comentário:

Anônimo disse...

Elaiá hein! Vergonhoso!
Beeeeeejo