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sábado, 3 de abril de 2010

O poder da mídia tradicional


Por Venício A. de Lima

Tenho recorrido com freqüência neste Observatório ao conceito grego de hybris (ou hubris) para me referir a uma constante do comportamento de jornalistas que revelam "confiança excessiva, orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência".

Escrevi ainda em fevereiro de 2007 que "a imprensa (mídia) não gosta e, muitas vezes, não admite, ser criticada. Embora a crítica seja a sua tarefa preferida, ela não suporta delegar ou reconhecer que outros possam ter o mesmo direito, sobretudo se a crítica se refere à sua própria atuação. Em geral, a imprensa e os jornalistas padecem do mal que os gregos clássicos consideravam o mal maior, a hybris, isto é, a soberba, a arrogância. Não reconhecem suas limitações e se colocam acima do bem e do mal" (ver "Tempo de avançar o debate sobre a mídia").

Constato tardiamente que ao lado da hybris – ou seria apenas um de seus componentes? – jornalistas famosos, em situações nas quais são chamados a prestar depoimentos sobre sua experiência profissional, recorrem à falsa modéstia que logo revela sua verdadeira natureza, bastando para isso que alguém questione mitos nos quais sua postura se apóia.

O momento de intensas mudanças pelo qual passam a mídia e a prática profissional do jornalismo é extremamente propício a esse tipo de comportamento.

Jornalismo online vs. jornalismo impresso

A crise universal da mídia impressa nos autorizaria a afirmar que ela já acabou, é coisa do passado? A expansão avassaladora da internet significa que não se deve mais dar importância ao que a mídia impressa publica? O número de acessos individuais a sites e/ou blogs é comparável, sem mais, à tiragem e à circulação de jornais? A mídia tradicional – jornais, revistas, rádio e televisão – "não faz a cabeça de ninguém" e hoje o que de fato interessa são os jornais eletrônicos, blogs, sites de notícia, sites de relacionamento e as redes sociais?

As assessorias de comunicação social devem canalizar todos os seus recursos orçamentários para as "novas mídias" (incluindo a criação de redes de relacionamento), ignorar a velha mídia e se escorar exclusivamente na chamada "mídia espontânea"?

Jornalistas que, por uma razão ou outra, migraram precocemente para os blogs – temáticos e/ou genéricos – e optaram por abandonar a mídia tradicional, logo se surpreenderam com o elevado número de acessos individuais a seus blogs e à oportunidade que a interatividade da internet permite de correção ou acréscimo de informações depois que a notícia já está "no ar". Logo concluíram, sem mais, que a sobrevivência da mídia tradicional é apenas uma questão de tempo: ela já acabou e ainda não se deu conta disso.

"Pioneiros" da blogosfera afirmam que fizeram a mudança por intuir que o jornalismo tradicional havia chegado ao fim. Apesar de não serem acadêmicos e de serem apenas e tão somente intuitivos – desconhecedores, inclusive, de muitos dos recursos que a tecnologia lhes oferece – se aperceberam da nova realidade, faz tempo. Segundo eles, não partilhar essa visão revelaria a incapacidade de enxergar o que de fato está acontecendo diante de seus olhos.

Recurso à "ciência"

Se perguntados, todavia, sobre o papel dessa mídia tradicional, por exemplo, em relação ao assassinato de reputações – pessoais e/ou institucionais; à formação da opinião pública – por omissão ou manipulação –; à construção da agenda pública de debates e ao processo eleitoral, a coisa muda de figura. A falsa modéstia da intuição desinformada cede lugar a uma enxurrada de números e percentagens "científicos", oriundos de pesquisas sempre realizadas por instituições credenciadas em outros países, os Estados Unidos, de preferência.

Os até então intuitivos não acadêmicos recorrem a referências "científicas" que atestariam, há mais de 70 anos, o fato de a mídia tradicional "nunca ter feito a cabeça de ninguém". Ao contrário, ela apenas reforça as opiniões e os comportamentos preexistentes. Vale dizer, a mídia tradicional nunca teve a importância que se atribui a ela, especialmente, aqueles – os acadêmicos desinformados – que estão distantes da prática profissional.

O novo e o velho

Além de revelador de uma falsa modéstia oportunista, o comportamento descrito acima faz evocar o que também já tive a oportunidade de afirmar por diversas vezes neste OI. Embora, por óbvio, as circunstâncias fossem outras e seja necessária uma pequena adaptação no texto, penso que se aplica ao momento de transição que a mídia vive no Brasil a idéia gramsciana de que "o velho está morrendo e o novo apenas acaba de nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece".

(A frase original correta é: "A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece"; ver "O novo nasce, o velho ainda resiste".)

Um dos riscos que se corre, enquanto não se completam as intensas mudanças pelas quais passa a prática profissional do jornalismo, é esquecer que o velho resiste e sobrevive e está mais ativo do que nunca em defesa de seus antigos privilégios.

Não reconhecer essa realidade pode fazer bem ao ego insaciável de uns poucos blogueiros pioneiros, mas está longe de contemplar a verdade do que ainda ocorre no Brasil de nossos dias. A mídia tradicional continua exercendo um poder importante demais para ser simplesmente ignorado.

2 comentários:

walter barros disse...

O "poder" da mídia em um país democrático se faz com ordem,pois todos tem suas opiniões aceitas e publicadas,enquanto que o poder da mídia em um país governado por partido único,governo totalitário e povo sem qualquer tipo de informação do que acontece a cinco metros de distância de suas consciências é o que?.Falar em poder da mídia com o fator de influência de um povo em um país como o Brasil é a forma mais ignomínia de quer dizer que o povo é alienado.Alienação se faz com a compra da consciência de cada cidadão com os programas assistêncialistas baratos como o Bolsa Familia,que me vez de dar ao povo um digno e honroso trabalho para o mesmo sustentar a sua familia, compra a mesma para votar em candidatos do governo que institucionaliza a volta do coronelismo, como acontecia no nordeste nos anos passados,mas naquele tempos se comprava os votos com tijolos,cimento e cestas básicas dadas pelos coronéis Sarney,Collor,Jader Barbalho e outros que hoje fazem parte do chamado governo do povo(pobre povo,que distribuem o Bolsa Familia, sem qualquer critérios,apenas os que lhes são peculiares,isto é,comprar os votos(onde esta o TSE)dos seus antigos cabritinhos eleitores.A mídia em nosso país é democrática e esclarecedora pois noticia a verdade e não se rende aos vultuosos orçamentos da propaganda enganos do governo,para vender noticia fictícias.A verdade é acima de tudo a realidade de um país de seu povo,pois a cada dia esta verdade conscientiza o cidadão do que ele é na sociedade e não do que desejam que ele seja.Viver a plena democracia é ter o direito de ir e vir,pensar e falar,sorrir e chorar e principalmente ser o que é,sem que ninguém diga a ele que o mesmo é um mero coadjuvante no meio social em que esta inserido.Tenho orgulho de ter em nosso país uma midia democrática pois somente assim podemos debater as nossas idéias e pensamentos como o estamos fazendo neste momento meu querido e irmão Verneck,beijos em seus imenso e estimado coração.

RONALDO VERNECK GONCALVES disse...

Fico feliz com sua participação aqui no Pimentus Walter. Creio que a base de seus valores estão carregados de interesses de quem não tem interesse em fazer desse país para todos. Muito contraditório para aqueles que querem a mesma coisa, mas não conseguem fazer a relação entre as situações. Um exemplo disso são os nomes dos políticos que anunciou nos comentários. Todos de direita que defendem um país para poucos. Quando conseguir fazer a diferença entre Jacobinos e Girondinos, creio que o nosso entendimento das relações políticas entre forças antagônicas tende a ser mais claras, pra vc. Forte abraço amigo e apareça sempre.