O parecer “técnico” jurídico do STF, na verdade, responde a interesses de uma classe social. Dos proprietários de algumas corporações midiáticas. São estes que questionaram, juridicamente, um mecanismo que exigia a formação acadêmica específica do jornalista. Na verdade queriam para si a prerrogativa de validar quem teria competência para ser seus jornalistas ou não.
A Editora Abril e o Jornal Folha de São Paulo já disponibilizam, em suas instalações, alguns cursos na área de jornalismo. E que “formam futuros jornalistas” em apenas seis meses. Oferecendo não apenas o “curso”, mas a experiência de se “aprender” fazendo jornalismo em algumas de suas editorias de seus veículos. Que, diga-se de passagem, conceituados no “mercado midiático”. O fato é que, apesar da contestação no STF, dos interesses serem outros e não a qualidade da formação do jornalista, uma grande quantidade de estudantes e recém formados sentiram-se expropriados num direito que acreditavam ser perpétuo. Hoje tentam vislumbrar uma formação acadêmica que possa fazer a diferença na hora da contratação para ser um jornalista reconhecido.
Desprezando o glamour que a profissão traz, ser jornalista hoje é fazer parte de um sistema que não colabora para o verdadeiro sentido do jornalismo. A mercantilização da notícia desfigurou o conceito do jornalismo na sociedade capitalista. Quem se preocupa com o lucro em primeiro lugar, não é uma instituição jornalística. Não pode ser. A fronteira ética entre ter amarrado sua pauta jornalística aos interesses comerciais e políticos da empresa é muito tênue. Ser uma corporação midiática hoje é tentar-se travestir de uma instituição jornalística com isenção. O que não é verdade. É como vemos uma grande parte dos empresários midiáticos tentando salvar seus negócios. A crise que a imprensa mundial passa por hoje não é só econômica, mas de credibilidade. Em especial no Brasil. Focados em seus interesses egoístas, próprio de um sistema que só nos faz pensar e agir assim, os grandes senhores do setor de mídia não conseguem se adaptar aos novos tempos. À agilidade e à interatividade que a internet está trazendo.
Além do envelhecimento dos leitores, da estratégia equivocada de disponibilizar seus conteúdos de graça, a grande mídia encontra um universo tão grande de pessoas e instituições querendo fazer aquilo que elas abandonaram (jornalismo), que está difícil voltar a fazer o que jamais deveriam ter abandonado. E não é fragilizando a categoria dos jornalistas, precarizando suas condições de trabalho ou a forma de contratação, que conseguirão resgatar um dos princípios básicos do jornalismo que é o de fazer desta profissão uma missão social. Combater todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando a ética, a verdade e os seres humanos em sua singularidade e na sua luta por dignidade.
O jornalismo sempre irá existir, mas que nome se dará aquela profissão que, a exemplo de hoje, historicamente, vem abandonando suas técnicas de apurar, entrevistar, redigir as luzes da ética e da imparcialidade?
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