Apesar de não ser nova esta análise (já estava no blog do Azenha algum tempo), resolvi postar aqui seus comentários para fazermos uma reflexão a respeito do que pode acontecer no futuro em relação ao nosso continente. Que sempre foi considerado quintal dos Estados Unidos (com exceção de Cuba, né?!) Pois bem, o jornalista Luís Carlos Azenha discorre a respeito da crise econômica que os gringos estão enfrentando por lá. E como muita gente diz, eles espirram lá, ficamos gripados aqui. A análise vai contribuir para entendermos um pouco mais daquilo que pode acontecer conosco. Boa leitura!
RECESSÃO AMERICANA TERÁ GRAVE IMPACTO NA AMÉRICA LATINA, MAS NO BRASIL SERÁ MENOR
O CEPR, Center for Economic and Policy Research, de Washington, é dedicado a estudar a relação política e econômica entre os Estados Unidos e a América Latina. Em estudo recém-divulgado, assinado por Mark Weisbrot, John Schmitt e Luis Sandoval, avalia o impacto econômico de uma recessão americana na região.
Vocês sabem que os Estados Unidos importam tudo. Do suco de laranja brasileiro a brinquedos eletrônicos chineses. O déficit comercial americano bateu em 5.8% do PIB em 2006. "Deficits dessa magnitude levaram a um grande crescimento da dívida externa dos Estados Unidos", dizem os autores, lembrando que ela chegou a U$ 2,9 trilhões no final de 2006, ou 19,7% do PIB.
Eles argumentam que a situação é insustentável. E acreditam que, a partir da redução do crescimento americano - ou mesmo de uma recessão - o déficit comercial americano será ajustado, caindo de 5.2% do PIB em 2007 para 3% em 2010.
"Alguns países são mais dependentes do mercado americano do que outros. Por exemplo, 77% das exportações do México vão para o mercado americano e essas exportações representaram cerca de 21% do PIB em 2007. Outros países onde as exportações para os Estados Unidos constituem uma parcela significativa do PIB incluem Honduras (37%), Nicarágua (26%), Canadá (23%) e vários outros países da América Central e do Caribe", diz o texto.
Já na América do Sul, as exportações para o mercado americano representam "apenas" 2.9% do PIB do Brasil e 1.6% do PIB da Argentina. "As exportações da Venezuela para os Estados Unidos representam 15% do PIB, mas 95% disso é petróleo. Nos cálculos que seguem consideramos que as exportações de petróleo, gás e produtos relacionados não cairão por causa da redução do crescimento econômico dos Estados Unidos. Isso reduz o efeito da crise americana no Canadá, Colômbia, Equador e Venezuela."
Os economistas projetaram dois cenários. Um considera um pequeno ajuste no déficit comercial dos Estados Unidos. Outro, um ajuste profundo.
A redução do PIB brasileiro por conta disso, segundo o estudo, ficaria entre 0.2 e 0.4% do PIB.
A do Canadá ficaria entre 2.8 e 4% do PIB.
A do México ficaria entre 2.9 e 4.1% do PIB.
A da Venezuela ficaria entre 0.1 e 0.2% do PIB.
A de Honduras ficaria entre 5.9 e 8.3% do PIB.
A da Bolívia entre 0.3 e 0.5%.
A da Colômbia entre 0.4 e 0.5%.
A do Equador entre 0.6 e 0.8%.
A do Chile entre 0.9 e 1.2%.
"Os países que vão sofrer mais como resultado da redução de importações americanas são aqueles com os quais os Estados Unidos fizeram tratados de 'livre comércio' em décadas recentes, inclusive o NAFTA entre EUA, Canadá e México, o Tratado de Livre Comércio da América Central com a República Dominicana e o CAFTA, que inclui Estados Unidos, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, Honduras e a República Dominicana", diz o estudo.
Os autores não consideraram outros efeitos da redução da atividade econômica nos Estados Unidos, como nas remessas de dinheiro. Menos atividade econômica, menos emprego, queda das remessas.
As remessas representam 31% do PIB do Haiti, 17% na Nicarágua, 16% em El Salvador, 16% na Jamaica e 11% na Guatemala. Nem todo o dinheiro vem dos Estados Unidos, mas com certeza é a maior fatia.
A partir do estudo podemos tirar várias conclusões.
Existe justificativa para que países da região, especialmente os exportadores de energia, procurem outros mercados e façam parcerias com o Irã, a Rússia, a China e a Índia. Não há nada de revolucionário nisso, apesar do que dizem o governo Bush e a TV Globo. É uma questão de sobrevivência econômica.
Países como a Nicarágua, por exemplo, vão ficar mais dependentes de quem pode lhes facilitar a vida - Hugo Chávez e os bilhões que ele controla com o barril de petróleo a 100 dólares.
Vem aí uma crise econômica grave, com efeitos na segurança pública e na política, em países importantes como o México - onde já assistimos à militarização do governo para combater a imigração ilegal e os movimentos sociais. O México já desloca tropas para segurar, na fronteira com a Guatemala, o fluxo de imigrantes ilegais da América Central que estão a caminho dos Estados Unidos.
Teremos desespero econômico em países como Honduras, Guatemala e Haiti - os militares brasileiros que se preparem para uma explosão política de fundo social no Haiti. A Guatemala, de governo novo, está de olho em reforçar os laços econômicos especialmente com o Brasil.
Os imigrantes servirão de bode expiatório para problemas econômicos estruturais e dependência excessiva do mercado americano. Já acontece na Costa Rica, onde o "problema" são os imigrantes que chegam da Nicarágua; e na República Dominicana, onde a "culpa" é de quem vem do Haiti.
Podemos esperar maior imigração entre países da América Latina, com as consequências econômicas e políticas resultantes disso.
Como a soberania política está intimamente ligada à soberania econômica, assistiremos à ascensão relativa de países com recursos naturais - Venezuela, Equador, Bolívia, Colômbia e Brasil.
É uma oportunidade de ouro para que o Brasil faça avançar seus interesses econômicos e políticos até o México.
A paz verdadeira na América Latina, com a eliminação política - e não militar - das FARC faz todo sentido para a integração econômica, especialmente na América do Sul.
Quem seria o maior ganhador de um mercado continental e da integração física através de estradas, ferrovias, ligações aéreas e trocas de mercadorias?
Que tal o Brasil?
Qual é a maior dificuldade para que isso aconteça?
Seria a instabilidade política?
A quem interessa desmobilizar as FARC de forma pacífica, através de um acordo político?
A quem interessa evitar a partilha da Bolívia, através de uma saída diplomática?
A quem interessa mandar bala nas FARC?
A quem interessa partilhar a Bolívia?
Eu gostaria de ouvir as respostas. Mas sem a papagaiada do Ali Kamel e congêneres.
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