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terça-feira, 11 de março de 2008

Análise econômica da América Latina num futuro não tão distante


Apesar de não ser nova esta análise (já estava no blog do Azenha algum tempo), resolvi postar aqui seus comentários para fazermos uma reflexão a respeito do que pode acontecer no futuro em relação ao nosso continente. Que sempre foi considerado quintal dos Estados Unidos (com exceção de Cuba, né?!) Pois bem, o jornalista Luís Carlos Azenha discorre a respeito da crise econômica que os gringos estão enfrentando por lá. E como muita gente diz, eles espirram lá, ficamos gripados aqui. A análise vai contribuir para entendermos um pouco mais daquilo que pode acontecer conosco. Boa leitura!



RECESSÃO AMERICANA TERÁ GRAVE IMPACTO NA AMÉRICA LATINA, MAS NO BRASIL SERÁ MENOR

O CEPR, Center for Economic and Policy Research, de Washington, é dedicado a estudar a relação política e econômica entre os Estados Unidos e a América Latina. Em estudo recém-divulgado, assinado por Mark Weisbrot, John Schmitt e Luis Sandoval, avalia o impacto econômico de uma recessão americana na região.

Vocês sabem que os Estados Unidos importam tudo. Do suco de laranja brasileiro a brinquedos eletrônicos chineses. O déficit comercial americano bateu em 5.8% do PIB em 2006. "Deficits dessa magnitude levaram a um grande crescimento da dívida externa dos Estados Unidos", dizem os autores, lembrando que ela chegou a U$ 2,9 trilhões no final de 2006, ou 19,7% do PIB.

Eles argumentam que a situação é insustentável. E acreditam que, a partir da redução do crescimento americano - ou mesmo de uma recessão - o déficit comercial americano será ajustado, caindo de 5.2% do PIB em 2007 para 3% em 2010.

"Alguns países são mais dependentes do mercado americano do que outros. Por exemplo, 77% das exportações do México vão para o mercado americano e essas exportações representaram cerca de 21% do PIB em 2007. Outros países onde as exportações para os Estados Unidos constituem uma parcela significativa do PIB incluem Honduras (37%), Nicarágua (26%), Canadá (23%) e vários outros países da América Central e do Caribe", diz o texto.

Já na América do Sul, as exportações para o mercado americano representam "apenas" 2.9% do PIB do Brasil e 1.6% do PIB da Argentina. "As exportações da Venezuela para os Estados Unidos representam 15% do PIB, mas 95% disso é petróleo. Nos cálculos que seguem consideramos que as exportações de petróleo, gás e produtos relacionados não cairão por causa da redução do crescimento econômico dos Estados Unidos. Isso reduz o efeito da crise americana no Canadá, Colômbia, Equador e Venezuela."

Os economistas projetaram dois cenários. Um considera um pequeno ajuste no déficit comercial dos Estados Unidos. Outro, um ajuste profundo.

A redução do PIB brasileiro por conta disso, segundo o estudo, ficaria entre 0.2 e 0.4% do PIB.

A do Canadá ficaria entre 2.8 e 4% do PIB.

A do México ficaria entre 2.9 e 4.1% do PIB.

A da Venezuela ficaria entre 0.1 e 0.2% do PIB.

A de Honduras ficaria entre 5.9 e 8.3% do PIB.

A da Bolívia entre 0.3 e 0.5%.

A da Colômbia entre 0.4 e 0.5%.

A do Equador entre 0.6 e 0.8%.

A do Chile entre 0.9 e 1.2%.

"Os países que vão sofrer mais como resultado da redução de importações americanas são aqueles com os quais os Estados Unidos fizeram tratados de 'livre comércio' em décadas recentes, inclusive o NAFTA entre EUA, Canadá e México, o Tratado de Livre Comércio da América Central com a República Dominicana e o CAFTA, que inclui Estados Unidos, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, Honduras e a República Dominicana", diz o estudo.

Os autores não consideraram outros efeitos da redução da atividade econômica nos Estados Unidos, como nas remessas de dinheiro. Menos atividade econômica, menos emprego, queda das remessas.

As remessas representam 31% do PIB do Haiti, 17% na Nicarágua, 16% em El Salvador, 16% na Jamaica e 11% na Guatemala. Nem todo o dinheiro vem dos Estados Unidos, mas com certeza é a maior fatia.

A partir do estudo podemos tirar várias conclusões.

Existe justificativa para que países da região, especialmente os exportadores de energia, procurem outros mercados e façam parcerias com o Irã, a Rússia, a China e a Índia. Não há nada de revolucionário nisso, apesar do que dizem o governo Bush e a TV Globo. É uma questão de sobrevivência econômica.

Países como a Nicarágua, por exemplo, vão ficar mais dependentes de quem pode lhes facilitar a vida - Hugo Chávez e os bilhões que ele controla com o barril de petróleo a 100 dólares.

Vem aí uma crise econômica grave, com efeitos na segurança pública e na política, em países importantes como o México - onde já assistimos à militarização do governo para combater a imigração ilegal e os movimentos sociais. O México já desloca tropas para segurar, na fronteira com a Guatemala, o fluxo de imigrantes ilegais da América Central que estão a caminho dos Estados Unidos.

Teremos desespero econômico em países como Honduras, Guatemala e Haiti - os militares brasileiros que se preparem para uma explosão política de fundo social no Haiti. A Guatemala, de governo novo, está de olho em reforçar os laços econômicos especialmente com o Brasil.

Os imigrantes servirão de bode expiatório para problemas econômicos estruturais e dependência excessiva do mercado americano. Já acontece na Costa Rica, onde o "problema" são os imigrantes que chegam da Nicarágua; e na República Dominicana, onde a "culpa" é de quem vem do Haiti.

Podemos esperar maior imigração entre países da América Latina, com as consequências econômicas e políticas resultantes disso.

Como a soberania política está intimamente ligada à soberania econômica, assistiremos à ascensão relativa de países com recursos naturais - Venezuela, Equador, Bolívia, Colômbia e Brasil.

É uma oportunidade de ouro para que o Brasil faça avançar seus interesses econômicos e políticos até o México.

A paz verdadeira na América Latina, com a eliminação política - e não militar - das FARC faz todo sentido para a integração econômica, especialmente na América do Sul.

Quem seria o maior ganhador de um mercado continental e da integração física através de estradas, ferrovias, ligações aéreas e trocas de mercadorias?

Que tal o Brasil?

Qual é a maior dificuldade para que isso aconteça?

Seria a instabilidade política?

A quem interessa desmobilizar as FARC de forma pacífica, através de um acordo político?

A quem interessa evitar a partilha da Bolívia, através de uma saída diplomática?

A quem interessa mandar bala nas FARC?

A quem interessa partilhar a Bolívia?

Eu gostaria de ouvir as respostas. Mas sem a papagaiada do Ali Kamel e congêneres.


http://www.viomundo.com.br/opiniao/recessao-americana-tera-grave-impacto-na-america-latina-mas-no-brasil-sera-menor/

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