Recebi por e-mail o artigo do Gilberto Souza, editor chefe do Jornal Correio do Brasil, lá do Rio de Janeiro. Me surpreendi com o esse texto vindo de um editor de um jornal brasileiro. Não que eu tenha algum preconceito, mas conheço muito bem a pauta que seguem os editores da maioria dos jornais. Destoam explícitamente do que está sendo comentado no texto em questão.
Acho interessante reproduzi-lo aqui e assim fazermos uma reflexão de como nosso comportamento vai se engessando conforme os interesses capitalistas nos vai conduzindo. Sem que com isso percebamos os caminhos que vamos percorrendo.
Confira abaixo;
No capitalismo, população de rua é o fim da cadeia alimentar
O drama da população que mora nas ruas das principais capitais e grandes cidades brasileiras nos apresenta um país degradado. O Brasil das trevas. Câmeras dispostas no prédio do Ministério Público, no Centro do Rio, flagram miseráveis matando miserável a porrete. A poucos quilômetros dali, debaixo de um viaduto, menino ateia fogo em meninos e meninas com espuma encharcada em gasolina. Uma delas, grávida, morre carbonizada. Barbárie.
As metrópoles desta nação, qual organismos vivos e autofágicos, degradam-se na medida direta em que as contas bancárias do capitalismo especulativo engordam, mundo afora. A globalização - essa estranheza que hoje nos permite saber a velocidade com que o bater de asas da borboleta, no Japão, transformar-se-á no furacão extra tropical que varre Santa Catarina - também apresenta uma face sombria, alucinada. A crueldade do ser humano, resquício genético das savanas, adormece apenas quando o estômago está forrado, a cama pronta e a cabeça feita. Sem uma dessas três prerrogativas, ou sem todas elas, que é o caso desses desvalidos, cenas de absoluto descaso com a vida, como a estas que assistimos no cotidiano, serão uma realidade mais cruel e estúpida do que imaginou Dante, a caminho do Inferno.
Durante séculos e, mais recentemente, por décadas de arrogância militarista e corrupção desvairada, espraiadas no último governo liberal, de FHC, construiu-se nesse país a idéia de que haveria uma classe dominante e outra, de dominados. E a meta dos dominados deveria ser a de chegar ao estágio dos dominantes. Estes, igual àquela brincadeira da gata-parida, lutam com unhas e dentes para manter o status quo, custe o que custar, salve-se quem puder. Sim, porque no time dominante a escassez é uma exceção, enquanto aos dominados é a regra. Gerir esse processo se convencionou chamar de "mercado". Manter esse rodízio é a tarefa do próprio sistema.
Ocorre, no entanto, que os recursos são finitos. As commodities, como o tal "mercado" apelidou o milho, o feijão, a farinha e o combustível, entre outros bens necessários à vida no mundo, não bastam para todos, segundo o conceito de quem dominou as civilizações até hoje. O resultado são esses miseráveis que, famintos, sem um teto e entorpecidos com benzina ou outra droga qualquer, matam, roubam, estupram, incendeiam, rastejam sob os viadutos, se escondem, morrem.
Fica mais fácil reconhecer a perversidade do mundo em que vivemos quando um tal de João que, por não se saber o sobrenome dele se convencionou chamar de Brasil, matou um tal de Toquinho que dormia sob uns farrapos na calçada. Chega a ser cristalina a injustiça que se pratica no dia-a-dia, na forma de ver o mundo, de compactuar com o sistema, quando uma Flávia Souza, de 15 anos, grávida de um mês, e Wellington Alves, de 16 anos, são queimados vivos.
No momento
O poder béligerante que usurpa o petróleo do Iraque, em uma guerra de mentiras, é o mesmo que arrebenta a cabeça do pobre coitado numa rua carioca. São fatos interligados pela trama do imperialismo e da ambição. Ainda não perceberam, esses que vivem aí amealhando muito mais do que precisam para viver, que acumulam fortunas absurdas e latifúndios inimagináveis, que a cidadania - hoje traduzida no exercício do direito a três refeições por dia - é um fato irreversível. A África, o Brasil, a América Latina, com a rara exceção da Colômbia, a, Rússia, a China e a Índia, entre outros cantos do mundo, descobriram que essa história de dominantes e dominados é conversa fiada.
Nem todas as bombas do sr. George W. Bush ou os seus cães adestrados vão impedir que o restante do planeta coma três vezes, de sol a sol, e, mais saudável, construa um teto sobre suas cabeças, agora feitas não com as drogas, que levam miseráveis a matar miseráveis, mas com idéias, cultura e educação.
Link do texto;
http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=138427
Nenhum comentário:
Postar um comentário