Gosto muito do Miro. Quem não o conhece, faço questão de apresentá-lo; Altamiro Borges é de São Paulo, capital. É jornalista, membro do Comitê Central do PC do B - Partido Comunista do Brasil e autor do livro “Sindicalismo, resistência e alternativas” (Editora Anita Garibaldi). Mantém um blog chamado Blog do Miro, que acho interessantíssimo e que regularmente transponho alguns de seus textos aqui para o Pimentus. Pois bem, após essas eleições de 2008 e de três dias sem postar praticamente nada (estava viajando), encontrei alguns textos alusivos às eleições, que ocorreram neste final de semana passado, no blog deste jornalista.
Miro faz uma análise política do resultado dessas eleições. Revela suas impressões sobre como ficou a correlação de forças num cenário que se solidifica em direção à data de 2010. Ano em que teremos eleições para Presidência da República.
Por Altamiro Borges
Na primeira entrevista após o final da apuração do segundo turno na capital paulista, o demo Gilberto Kassab nem parecia o prefeito eleito. Rasgou elogios ao tucano José Serra, que roubou totalmente a cena na coletiva. “Nesses quatro anos tive uma grande perda, que foi a morte de minha mãe, e tive um grande amigo que ganhei na vida e um grande líder, que é José Serra, que levarei para o resto da minha carreira. Dedico a ele essa vitória”, choramingou o novo prefeito, confirmando a tese de que é e será um “laranja” do governador paulista e presidenciável tucano.
Tucano pavimenta o terreno
A folgada vitória de Gilberto Kassab, com 60% dos votos válidos, tem inúmeros significados. O mais preocupante é que ela representa forte impulso à candidatura de José Serra para a sucessão presidencial de 2010. Numa tática arriscada, o grão-tucano traiu Geraldo Alckmin, candidato do seu próprio partido, e apostou no prefeito do demo, mais confiável e funcional às suas ambições políticas. Apesar das rusgas criadas no PSDB – alguns dirigentes propõem punir os “dissidentes” –, Serra venceu a parada. Desta forma, ele garantiu a preservação da aliança com os oligarcas do DEM. De quebra, ainda conseguiu atrair o PMDB paulista, que terá papel decisivo na sucessão.
Serra parte para a nova batalha sucessória bem reforçado. Além de governar o principal estado da federação, garantiu sua marionete na capital e ainda venceu em um terço das cidades de São Paulo, mantendo a hegemonia tucana no estado. Ele também conta com o entusiástico apoio da mídia, que nada noticia sem consultá-lo previamente. Os recentes episódios de ocultamento da guerra das polícias e do seqüestro de Eloá confirmam que ela está totalmente comprometida com o projeto de José Serra. Isto para não falar no apoio do grosso da elite empresarial de São Paulo.
DEM escapa da extinção
Outro significado importante da vitória de Gilberto Kassab é que ela ressuscita o DEM, o ex-PFL dos apoiadores da ditadura militar. Este partido, que representa a oligarquia mais reacionária do país, vinha num processo de definhamento. No ano 2000, elegeu 1.028 prefeitos; em 2004, já sob impacto da experiência progressista do governo Lula, elegeu 790 prefeitos; e nas eleições deste ano, baixou para 496. Muitos analistas já previam o seu sepultamento. Mas graças ao apoio do “traíra” José Serra, os demos ganharam uma sobrevida, mesmo que como apêndice do tucano.
O novo prefeito de São Paulo, apesar de jovem e de se travestir do moderno, é a expressão cabal da política conservadora do DEM. Ele ingressou na política pelas mãos do empresário Guilherme Afif Domingues, um colaborador da ditadura, ex-secretário no governo de Paulo Maluf. Kassab integrou o comando de campanha de Afif na eleição presidencial de 1989. Em 1993, foi eleito vereador na capital paulista. Também exerceu o mandato de deputado estadual (1995-1998) e deputado federal (1999-2005) pelo PFL. No executivo, foi o principal secretário de Celso Pitta, cria de Maluf, que arruinou a capital paulista. É um quadro orgânico deste partido conservador.
Eleitorado conservador
Vice de José Serra em 2004, assumiu a prefeitura em março de 2006, quando o tucano renunciou para disputar o governo estadual. No cargo, ele adotou a postura de total subserviência ao tucano, o que gerou críticas na cúpula do seu partido. Na campanha deste ano, com um eficiente trabalho de marketing, apresentou-se como “bom gerente” e personificou o voto anti-esquerda em São Paulo, desferindo ataques ao PT. A sua vitória confirma a trajetória conservadora do eleitorado paulista, que projetou figuras como Maluf, Pitta e agora elege Kassab, “laranja” de Serra.
O partido do presidenciável José Serra, o PSDB, disputou em três das sete cidades com segundo turno no Estado de São Paulo e não ganhou em nenhuma delas. Em São Bernardo do Campo, os tucanos amargaram a derrota frente ao ex-ministro Luiz Marinho. Em Guarulhos, segunda maior cidade paulista, eles perderam para o também petista Sebastião Almeida. Já em Bauru, a derrota foi para o peemedebista Rodrigo Agostinho, que tem um petista na vice. Contraditoriamente, porém, o tucano Serra sai fortalecido do pleito, o que alavanca sua candidatura presidencial para 2010.
Após fritar o correligionário Geraldo Alckmin, num dos mais gritantes casos de “cristianização” da história política brasileira, o governador conseguiu eleger o demo-laranja Gilberto Kassab na capital paulista. Desta forma, José Serra consolidou a aliança com o DEM, que foi surrado nas urnas no país inteiro e só ressuscitou graças ao empurrão tucano na capital paulista. Além disso, o hábil tucano atraiu importante fatia do PMDB, liderada por Orestes Quércia. Este partido, o que mais cresceu nas eleições municipais, será alvo de intensa cobiça e José Serra já lançou sua isca.
Vitórias e reveses no ABC paulista
No computo geral, o partido que mais obteve vitórias no segundo turno em São Paulo foi o PT. Além de manter a estratégica prefeitura de Guarulhos e fazer o vice-prefeito em Bauru, venceu na cidade operária que projetou o presidente Lula – São Bernardo Campo. O ex-ministro Luiz Marinho, que costurou uma ampla aliança, obteve 55% dos votos. O partido também venceu em Mauá, outro município proletário do ABC paulista, com o candidato Oswaldo Dias.
A festa petista na região, porém, foi ofuscada com a derrota em Santo André, que era governada pelo partido há 12 anos. Um desconhecido do PTB, Aidan Ravin, que teve apenas 22% dos votos no primeiro turno, foi vitaminado na reta final pela máquina tucana. O secretário da Casa Civil do governo Serra, Aloysio Nunes Ferreira, monitorou pessoalmente a batalha.“Ter uma aliado no ABC é muito positivo”, justificou. Segundo a própria mídia, os tucanos enviaram a Santo André recursos financeiros e equipes de comunicação. Aidan copiou até o “bonequinho” de Kassab!
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