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quinta-feira, 17 de abril de 2008

O que está em jogo nas eleições do Paraguai


O Paraguai está passando por uma transformação política importante atualmente. Neste mês de abril haverá eleições em que o povo paraguaio terá a chance de mudar sua história de eterna vítima de complôs políticos, corrupção, perda da soberania e ataques ao seu direito pleno de desenvolvimento como nação emancipada.



A história do Paraguai é muito triste. Desde seus ditadores antes da Guerra do Paraguai (como a conhecemos aqui, lá é Guerra do Brasil) até os dias de hoje. Sempre governados por representantes da elite econômica e política daquele país, os interesses da maioria sempre foram sobrepujados.

Fernando Lugo é o candidato do povo. E certamente serão os interesses deles que podem ser conflitantes com os de uma parte da sociedade brasileira e da argentina e que esse ex-bisoo católico terá de enfrentar para poder governar para a maioria.

Esse assunto é recorrente ao Pimentus devido a importância da possibilidade desta eleição. Já que Fernando Lugo não pertence a elite econômica e política paraguaia. Certamente há fatores que devem estar tentando impedir a todo custo sua eleição, mas quem é que segura a força do povo?

Acompanhem abaixo a entrevista que o Renato Rovai, editor da Revista Forum disponibilizou em seu blog e eu reproduzo aqui;


O amigo e jornalista Maringoni que visitou o Paraguai nos últimos meses e que tem acompanhado com atenção a eleição no país vizinho, nos concedeu a entrevista que segue por email. A análise dele é a demonstração mais clara de como nossa midiazona poderia ter muito mais qualidade. Não deixe de ler um trecho do editorial de hoje do jornal ABC Color que o Maringoni traduziu para este blogue.


O que está em jogo nas eleições do Paraguai neste fim de semana?


Maringoni – Está em jogo muita coisa, a começar pelo predomínio quase absoluto do Partido Colorado na vida do país. Trata-se de uma hegemonia que só encontra paralelo no Partido Revolucionário Institucional (PRI), do México, que se vale de mil e uma artimanhas legais para perpetuar-se no poder. Neste domingo, este domínio de 65 anos de uma agremiação que governou mais da metade deste tempo através de uma ditadura sanguinária, como a de Alfredo Stroessner, pode acabar. Além disso, as eleições representam possibilidade de novos setores sociais chegarem ao governo. Isso pode acarretar mudanças substanciais nas relações com o Brasil, a maior economia da região.


Se o bispo Fernando Lugo, favorito nas pesquisas, vier a ganhar, o que você acha que pode vir a mudar de fato no país?


Maringoni – Lugo está à frente de uma amplíssima coalizão social e política. Ela envolve quase duas dezenas de agrupamentos políticos, 68 movimentos e organizações sociais e alcança desde a esquerda socialista até um setor da burguesia paraguaia. O ponto de unidade é a revisão do tratado de Itaipu, firmado em 1973, pelas ditaduras Médici, no Brasil, e Stroessner, no Paraguai. Como se sabe, o Paraguai, pelo acordo, deve vender preferencialmente seu excedente energético ao Brasil. Os preços da eletricidade, neste caso, são até quatro vezes menores que a média do mercado. Como os ingressos de Itaipu representam a principal fonte de financiamento do Estado paraguaio, a questão torna-se vital para qualquer governo que queira aumentar gastos sociais e ampliar o investimento público. O mesmo acontece em relação à hidrelétrica construída em parceria com a argentina, a de Yaciretá. A questão da soberania hidrelétrica, como eles dizem, envolve preços e a possibilidade de o Paraguai vender sua energia a quem desejar, tornou-se mais que um mote de campanha. É um tópico de afirmação nacional, sobre a qual nenhum candidato tem condições de se contrapor. A campanha de Lugo é a que mais claramente formula essa diretriz. O Brasil não quer a revisão do acordo, o que encareceria parte da energia de Itaipu. No fundo, a revisão deverá se materializar em uma negociação de preços com o Brasil e a Argentina. Como toda negociação internacional, envolverá questões econômicas e, sobretudo, políticas. A possibilidade de um governo Lugo realizar reforma agrária, gerar empregos, investir em saúde, educação etc. está totalmente subordinada a esta renegociação energética.



Você poderia relatar qual o clima no país, como estão os movimentos sociais em relação a essa possibilidade de vitória de Lugo? Há um sentimento de esperança de mudança nas camadas populares?


Maringoni – Eu não estou no Paraguai no momento e as informações destes últimos dias são fornecidas pelos relatos de amigos que lá estão e pela leitura dos jornais locais. O que se vê é uma sucessão de denúncias de fraudes sobre registros eleitorais e um aumento do sentimento contra a supremacia econômica do Brasil e da Argentina. Ataques preconceituosos contra Lugo aumentam de intensidade nesta última semana. De outra parte, o principal jornal paraguaio, ABC Color, próximo ao Partido Liberal Radical Autêntico, que indicou o vice de Lugo, faz campanha aberta pelo ex-bispo. O editorial de capa desta quarta feira é significativo sobre a visão de uma parte das classes dominantes locais. Ataca a supremacia brasileira e argentina e a continuidade colorada. Até domingo o clima deve esquentar. E nos dias seguintes, a batalha se dará na apuração. A possibilidade de fraudes é muito grande. Os colorados não querem largar o osso facilmente.


Maringoni ainda nos encaminha a tradução de um trecho do editorial do ABC Color de hoje.

É interessante para se ter uma idéia do clima no país vizinho e de como o Brasil é considerado atualmente um subimpério em muitos países da América Latina:


Brasil e Argentina são os principais corruptores do Paraguai


“O triste destino histórico de nossa província paraguaia foi ficar incrustada entre lusitanos e portenhos. Isso determinou grande parte de nossos infortúnios posteriores e os que atualmente nos assolam. Tivemos de lutar contra as ambições de ambas as potências desde a época colonial. Depois, o século XX foi o da colonização e exploração econômica, da qual Itaipu e Yaciretá são hoje suas maiores e mais humilhantes expressões. Os políticos brasileiros e argentinos vinculados a essas administrações são, por suposto, sócios e cúmplices e assessores próximos dos corruptos locais. Todos eles sabem que enquanto os colorados conservarem o poder no Paraguai terão oportunidade de seguir roubando nossa energia de Itaipu e Yaciretá”.

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